O ex-ajudante de ordens afirmou, diante dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que o ex-presidente Jair Bolsonaro não apenas teve acesso à minuta como também participou ativamente de sua edição. A versão original do texto previa medidas extremas, como a prisão de autoridades dos três poderes.
E, segundo Cid, o próprio Bolsonaro fez questão de "enxugar" o documento.
“Ele enxugou o documento. Basicamente, retirando as autoridades das prisões. Somente o senhor ficaria como preso”, declarou Cid, dirigindo-se ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso.
O trecho revelou mais do que simples envolvimento: sugeriu uma ação direta e consciente.
A tentativa de moldar o conteúdo de um plano que previa a ruptura democrática do país ganha agora contornos ainda mais alarmantes.
O que havia na “minuta do golpe”?
De acordo com os relatos, o documento original era um roteiro quase cinematográfico de um golpe de Estado. Com prisões de ministros do STF — incluindo Alexandre de Moraes —, do então presidente do Senado Rodrigo Pacheco, e de outras figuras-chave do Judiciário e Legislativo, o texto pintava um cenário de ruptura total da ordem constitucional.
Mauro Cid explicou que não estava presente no momento exato em que as alterações foram feitas, mas afirmou que o documento com as edições foi mostrado a ele pouco depois, por Filipe Martins, ex-assessor internacional de Bolsonaro.
“Quando ele [Martins] saiu da sala, sentou-se ao meu lado.
Ali eu vi o documento já com as correções. Ele estava com o computador, fazendo as alterações solicitadas pelo presidente”, disse Cid com firmeza.
Essa cena aparentemente corriqueira — dois assessores reunidos em frente a uma tela —, na verdade, pode ter sido o momento em que uma tentativa de golpe começou a ser materializada no papel.
O “núcleo crucial” sob os holofotes
O depoimento de Mauro Cid marca a abertura dos interrogatórios do chamado "núcleo crucial" da ação penal que apura a tentativa de subversão da ordem democrática.